Sunday, October 16, 2005

Obra Urbana


Sam The Kid - respeito

Ainda na passada sexta-feira, Bairro alto, ali bem perto das fufas, assumi-me como uma mera observadora (que sempre sou) e reparo a certa altura num rapaz dos seus vinte anos enquanto este rabiscava as paredes de um daqueles prédios de Pombal ou, para quem está dentro do assunto, "pah, era um gajo que 'tava a dar uns tags". Ora isto, como sabemos, não é um acto que nos passe despercebido. Nós sabemos que eles o fazem, aliás, basta ir olhando para os muros e paredes por esta cidade fora, mas de facto a sensação de os ver fazer é diferente. Enquanto o jovem se exprimia através de uns rabiscos, passava um grupo de... como direi? Gente mais velha, ou então: "pah... passaram uns cotas!" que, como seria de esperar, fizeram o seu papel; "Olha lá... achas isso bem?". Claro está que a jovem criatura, rebelde e revoltada, deu as suas respostas e enquanto isso acendeu ali discussão. E isto deu-me para pensar se ele estava ou não a praticar vandalismo. A verdade é que a minha conclusão leva-me a dizer que sim, tags é um acto vândalo, na minha opinião, pelo menos.Mas depois pus-me do lado do rapaz. A origem do graffiti está ligada ao movimento Hip Hop, que surgiu nos guetos de Nova York em meados da década de 70 com o objectivo de apaziguar contrariedades existentes entre jovens agrupados em "gangues". Estes jovens sentiam a rua como um sítio descontraído para se manifestarem como jovens excluídos, socialmente oprimidos e sentindo a humilhação de ser negro e pobre numa sociedade que valorizava as condições opostas. Imaginem isto nos Estados Unidos, constantemente marcados pelos conflitos raciais. Eles usavam o espaço público de uma maneira (para eles) mais democrática, sempre em protesto contra o "sistema".Eu gosto de graffiti, mas nem por isso deixo de considerar o tag um acto de vandalismo. Graffiti é arte, arte urbana mas tag não é graffiti e por essa razão achei a intervenção de tais "cotas" mais do que justificada. Às tantas o rapaz, sempre calmo e descontraído com um ar de quem tinha a plena consciência do que fazia, disse "nós em Lisboa temos poucas paredes legalizadas, e isto é o que nós gostamos de fazer! Não deixo de o fazer só porque não tenho onde o fazer!". O que é um facto é que os senhores já mais velhos não se dignaram a responder. Mas aquilo não era graffiti, graffiti sim é arte, sou a primeira a dizer. Os tags sujam paredes que são de todos, é vandalismo e como se isso não bastasse, é feio e suja o campo de visão de um qualquer observador. Ainda assim, sempre tive curiosidade em saber o porquê de andar com uma trincha no bolso e de quando em vez assinar umas paredes. Que coisa feia!

5 Comments:

Anonymous Anonymous said...

nao tera sido certamente a primeira vez q viste alguem fazelos! duvido q ele tivesse a exprimir alguma coisa, pois hoje em dia quem entra para o graffiti é mais por moda ou porque os amigos pintam do que por necessidade de se exprimir contra qualquer opressao, o que eu nao critico, nao acho bom nem mau...é assim e pronto. Comigo, por mero acaso, nao foi bem assim... começei a pintar (sozinho) como uma tentativa de me refugiar dos problemas que tinha em casa, mas isso nao interessa pra nada. Nao podia deixar de comentar a parte em que tu dizes "a jovem criatura, rebelde e revoltada..." pois acho que nao so tu como a propria sociedade tem uma ideia errada das pessoas que pintam, nao têm necessariamente de ser rebeldes e revoltados. Provavelmente na maioria dos casos ate sao, mas acho q nao é motivo para o dizer de forma humilhante e de certa forma ate rebaixadora (se é que é assim que se diz..). Também Martin Luther king, por exemplo, foi um rebelde revoltado e teve o papel que teve na historia...
Se é vandalismo ou não...é!!se é graffiti ou não...nao! Mas faz parte do graffiti. O graffiti em sim hade ser empre em parte vandalism, se não nem fazia sentido existir visto que começou não so como uma forma de comunicaçao mas tambem como uma arma que combatia os opressores...( a sociedade branca fundamentalmente no principio)...a opressora continua a ser a sociedade e tudo o que a envolve (a meu ver) e a unica maneira pra muita gente de combater a opressao (que é bastante menor obviamente do que quando começou nos estados unidos) é fazendo graffiti e se não atingisse a sociedade não serviria pra nada...a sua principal funçao estaria a ser ignorada e o conceito de graffiti deturpado...é claro que não é assim tao complicado e a maioria das pessoas vandaliza porque acha giro, eu proprio já o fiz e posso muito bem voltar a fazelo, mas e preciso ver que se calhar começaram a fazelo por alguma razao..seja ela qual for.Se há ou não sitios pa se pintar legalizados pa é indiferente, isso e tudo desculpa. Se fosse tudo legalizado o graffiti em si acabava porque deixava de fazer sentido existir...se é feio ou não sao opinioes claro! Ta um bocado confuso mas é o que eu acho lol

2:46 PM  
Anonymous Anonymous said...

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4:02 PM  
Blogger zaok said...

subescrevo

7:24 AM  
Blogger s said...

Bem, não posso dizer que saiba muito de toda essa 'maneira de estar' graffiti, não sei mesmo. No entanto não posso dizer que não gosto de (a maior parte) dos que vejo... Mas tags quando isolados e sem 'objectivo' não são muito diferentes das cadeiras escritas a corrector, considero eu. E penso ser o grande problema dos mais velhos em relação à cultura graffiti. Não há aquela estensão de muro cheio de graffitis ali ao pé das Amoreiras? Ainda ninguém a mandou pintar... Agora, provavelmnete, se ouver uma parede cheia de tags, de certeza que é pintada mal haja dinheiro. MAs pronto, é só uma opinião de alguém um bocado 'outsider'.

9:03 AM  
Blogger Pyny said...

Concordo plenamente contigo! E penso que, apesar do Xanato discordar, que o acto de um grafitter é sempre um acto bastante indicativo da personalidade de cada um. Por um lado, é o risco de poder ser apanhado, (como se sabe a adrenalina é nossa amiga), por outro, pessoas com personalidades fracas deixam-se levar quando é feito em grupo e, por outro lado, o acto em si exprime, inequivocamente, rebeldia! Quando em grupo, o que tem a iniciativa marca a sua posição como líder e, por isso, é respeitado. Penso que, no fundo no fundo, é tudo uma questão de luta interior!

12:58 PM  

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