invulgar

Pareceu-me ouvir a porta ranger... Sim, estou quase certa de que alguém entrou aqui, devagarinho. É que eu ouvi a porta; sim, eu ouvi a porta. E não me dou ao trabalho de me levantar depressa, acender as luzes da casa toda e sorrir só de imaginar ver-te. Sim, é verdade que imagino tudo isto mas não me movo um centímetro, tenho o lençol aconchegado e as pernas traçadas da maneira exacta que procurei a noite toda. Não me mexo, estou inerte e vou ficar até que me encontres tu. Mas é que aquele sorrisinho de menina que costuma desenhar-se na minha cara, por baixo do meu nariz, desapareceu! Puff, desapareceu! É! Deu lugar a umas rugas no queixo. Estranhas rugas de expressão que agora estão constantemente comigo ora sim ora então... Mas bom, em todo o caso a minha alma caiu ao chão e ficou rachada. Como um prato de loiça antiga, muito antiga, que levou muitos encontrões nas mudanças várias de casa. Mas continua inteiro, não se sabe explicar como. É um prato invulgar.
A porta não range mais, pus-lhe óleo. De qualquer modo espero que chegues na mesma porque quero falar, preciso de conversar e a conversa não é habitual, desta vez... E as tais rugas de expressão... lembras? As do queixo... continuam a não me abandonar. É misto isto que sinto mas mesmo assim não teclo o telefone portátil, não o vou fazer. Não esqueças que a minha alma está rachada, está sensível mas a recuperar. É invulgar, não a desprezes dessa maneira! Por favor, não o faças!
1 Comments:
percebe-se tão bem
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