Tuesday, December 27, 2005

melancolia sem-sentido às tantas da madrugada

Guru - young ladies (jazzmatazz)

Ontem falaste no tal moço; que ele é bonito, que ele tem dotes que rasgam o sorriso. Disseste que te arrancou a roupa e que te deitou no chão. Tinhas um daqueles soutiens que abre à frente, um dos que abre à frente! E contaste o resto. Hoje ias de braço dado com a velha da rua de cima, a senhora que se diz bruxa. Passeaste com ela toda a tarde pelo Terreiro do Paço e compraram as castanhas cujo cheiro vinca Lisboa por esta altura. Também por esta altura faz um frio que te enrijece... "ela está velha para estas andanças!" disseste com voz de inverno.

Hoje podes chegar mais tarde, o chá não mais arrefece!

Monday, December 26, 2005

Rapaz

Jack Johnson - Drink the water

Se isto se pode chamar uma ode a certa pessoa, então sim, esta é a ode ao namorado. Porque desta vez decido ir directa ao assunto, talvez não o mais interessante para leitores mas de certeza (e com toda ela) um de suficiente importância para quem escreve. Talvez até engraçado para alguns conhecedores de factos que se passam e que já tantas vezes descrevi.
Bom... o facto é que também isto me traz um receio especial. O ego é uma coisa que ferve em pouca água, às vezes em quase nenhuma; mas o dele é demasiado engraçado e tem fenómenos que ninguém esquece.
Uma vez começada a conversa com o rapaz sobre o rapaz, escusam de tentar galgar os muros enormes que ele já foi construindo porque para além de serem mesmo enormes, os muros têm manteiga, o que faz com que apeteça ficar. A conversa estende-se. Conversa-se mais e mais. E quando nos apercebemos, estamos há infinitos minutos a conversar com o rapaz sobre o rapaz, sem sequer nos termos apercebido da conversa e, mais engraçado, os muros tornam-se subitamente maiores. Atiramos cimento para os fazer crescer ainda uns centímetros, porque mais é sempre possível com o rapaz. E o rapaz puxa. E como puxa! Ele arranca sempre mais um bem-dizer acerca do rapaz, ainda que quem o diz não tenha a plena consciência de que o faz. Mas isto vai-se adquirindo. Chama-se convivênvia, chama-se vivência, chama-se amizade, chama-se conhecimento.
A partir daqui tudo pode tornar-se vazio. E, regra geral, tudo esvazia. Com o rapaz tudo enche, tudo transborda. Pinto sempre fora do risco, sebem que às vezes a minha estranha forma de ser acaba por estancar o efeito fabuloso que isso pode ter nas pessoas (em mim, no caso). Calculem como me odeio nos seguintes minutos....
Mas vejam... transborda de tal maneira que nos minutos seguintes aos seguintes minutos de auto-ódio, o rapaz é de tal maneira ele e ele mesmo e só ele e ele de certeza, que já me apetece pintar fora do risco e galgar o muro de manteiga escorregadio para que ele possa puxar um bocadinho mais de bem-dizer, para que me apeteça (ainda mais) ficar... Ficar e pronto!

Que rapaz és!

Tuesday, December 06, 2005

In(tro)dução Precoce

K-os - the love song

Num dos passados dias vazios, e em conversa com um amigo, veio à bola, já nem sei bem porquê, a velha história da má fama. Nem certeza tenho de se era disto mesmo que falávamos. Bom, a verdade é que o assunto é "será que somos ensinados desde pequeninos a ter vinco característico de homens/mulheres?". Vendo a situação, rio-me, desfaço-me em chamar-lhe conversa da tanga. Entrando na conversa, isto muda de figura...
Vejamos... facto é que um sujeito de sexo masculino, numa situação de "couro", chamemos-lhe, quero com isto dizer numa situação de engate, é idolatrado (reforço o exagero) pelos amigos, invejado pelos conhecidos, o que lhe vai trazer um prestígio bastante cobiçado, eu acho, entre eles... E, digno (ou não) do dito prestígio, quantas mais... melhor, claro está!
O reverso da medalha? Coitadinho do sujeito de sexo feminino que se tentar a ter um destes prestígios... Se não souber fazer as coisas, o rótulo está posto e viverá! Ele será lembrado! Como o vinho!
Agora... talvez isto seja espelho daquilo que nos dão em miúdos. A miudinha chega da escola e "um grande" pergunta "então, já tens namorado?" ou "como se chama o teu namorado?". Do outro lado da cidade, ou até no andar de cima o miudinho vem suado e porco do treino e o tio dirige-se; "Entããããão (com uma festa áspera na cabeça) quantas namoradas tens?". Isto pode perfeitamente ser induzido a uns piolhos que, quando tomarem a poção da maioridade (e nem precisam de tanto) já lá têm o bichinho. É um tipo de educação!
Isto repete-se na história do racismo; lembro-me de estar na segunda ou terceira classe numa manhã de pinceis, tintas, canetas, papeis, quando precisei desesperadamente de pintar uma "pessoa" que tinha desenhado. Para isso precisava do "cor de pele", uma caneta de feltro como as outras todas mas, achava eu, que ela era... cor de pele! Porquê? Alguém me ensinou que "as pessoas" tinham de ser pintadas daquela cor e eu ia obedecer! Fiz a birra e nem queiram saber de que cor ficaram as minhas "pessoas". Castanho! É verdade! A Genoveva, a senhora baixinha de bata branca que se sentava na mesa enorme e não chegava com os pés ao chão, deve ter-me dado a lição! E bem dada!
Lembro-me! Ficou ou não ficou?