Thursday, April 20, 2006

hoje sentei-me à beira-rio


E porque cada dia tem sido melhor, cada dia traz consigo qualquer coisa de novo, qualquer coisa que, para além das minhas deprimidas horas, daquelas horas que me custam a passar, me faz desentristecer. Espanha continua a ser estrangeiro, Madrid permanece longe e eu não me contenho de gritos e lágrimas quando estas coisas me invadem. Tudo porque a decisão foi dedicar-me. Tudo porque me impus no amor em que me sinto, o amor que não me parece que diminua. E tu, que sobes a uma outra loucura, por entre fumos e gotas de um outro veneno. E que loucura essa, que acaba também por me enlouquecer, como se alegria e normalidade emanassem de mim. Mas da tua loucura eu bebo, da tua loucura e do teu cheiro eu não sou capaz de me cansar. É esta a forma que tenho de te dizer isso, de te transmitir aquela mensagem. Os actos são, por vezes, inferiores às palavras. E as palavras que te escrevo, essas ao menos sei que não vão ser esquecidas nem decoradas, sei que não permanecem nem desaparecem. Mas não desistem. São as minhas palavras, que força maior poderiam ter, que maior vinco podem ter do que a característica de quem as escreve, de insistência, de não desistência. Para lá do rio, para lá dos montes, lembras? É para serem lembradas que digo as coisas, que te digo a ti essas coisas. Porque hoje és tu quem me vale a pena.
O teu nome vai sendo sonante a mais e mais. O teu nome vai sendo falado ao meu ouvido, não sei por quem, talvez por mim. Sim, acho mesmo que por mim.
Eu gosto de ti! Eu sinto a tua falta!

Tuesday, April 18, 2006

a minha hora



supertramp - ain't nobody but me

De manhã ou ao fim da tarde, a minha hora sempre acaba por chegar. Esta coisa do amor pelo desporto ao ar livre tomou o espaço de mais uma das minhas paixões. E que melhor cenário do que as docas, o Tejo mesmo à direita, passar pelo padrão e chegar à torre, espreitar os Jerónimos, dar meia volta e voltar com o ventinho de fim de tarde que bate na cara e refresca! É quase ritual mas não chega a ser rotina porque nunca é igual, há sempre qualquer outra coisa em que se repara, uma cara nova que se vê e um outro apaixonado pelo jogging que se cruza e sorri em tom de cumplicidade, em tom de quem sabe o que aquilo é, também! E não é senão bom, não é senão saudável. E mais esta cidade, mais esta luz que por estas alturas teima em não nos abandonar antes das 9 da noite. A paixão por um desporto que não se paga, que se pratica porque apetece e que se vai arrastando assim, todos os dias a uma ou outra hora, conforme nos der jeito. Não há o compromisso nem o sentimento de culpa do não ir. Quando se toma o gosto, o jogging é um desporto que passa a valer a pena só pela realização interior.
Nos outros desportos, a procura é ser o melhor, competir, chegar ao pódium e um dia ganhar a melhor medalha e quem sabe cantar o hino num outro país. Neste é ser melhor que ontem, competir com a velocidade de ontem, com a distância e ganhar o gosto por nós próprios porque percebemos que podemos sempre fazer melhor! Eu faço a minha regra e cumpro-a. Amanhã se me apetecer mudo-a, amanha se não me apetecer nem sequer corro. O jogging é assim!
Convinhamos que também o verão está a chegar, suar dá sempre jeito!
Para mim, boas corridas. Para quem quiser, boas vindas!

Wednesday, April 05, 2006

ó vizinha, dá-me salsa?

Hoje estive na Ericeira, onde o mar é mais azul. Azul que, para meu descontentamento (e penso que não só meu), se vai tornando mais e mais cinzento por cada escassa vez que lá vou. O que quero dizer com isto é que agora vou lá num misto de felicidade e tristeza. Triste porque vou aos poucos despejando a casa que me conhece a infância, a casa com (cada vez menor) vista para o mar. Feliz (e isto é mesmo o que me entristece em simultâneo) porque criei uma irritação, uma vontade de estar longe daquela terra. A razão é "como transformar uma vila à beira mar numa Amadora". Isto vai-me fazendo confusão desde o dia em que plantaram a uns metros da minha varanda, um caixote com uma série de janelas de maneira a que se pudesse jogar cartas com o vizinho da frente. Mas nem por isso me queria distanciar daquilo. O revoltante é quando se tenta passear pela Ericeira. Eu já não o consigo fazer e nem sequer tenho vontade. Blocos de betão com buracos atrapalham-me a vista por todos os lados. Estendais virados para a rua, de maneira a que todos vejam as novas cuecas da Rute. As vizinhas cochicham (como sempre fizeram) com a diferença de que há dez anos atrás não usavam unhas de gel nem carteiras a imitar as "chiques", que é de facto o "patamar-desejo" daquela gente. Mesmo o facto do Mourão do Caniço não me ter servido um chá preto porque "ah, isso aqui não há!" (devo ter sido a única alma que em toda a existência daquele estabelecimento pediu um chá num sítio onde se comem bitoques e se bebe cerveja) e do Gama já só fazer queques e biscoitos de manteiga aos fins de semana... Tudo me irrita! Eu própria já arranjo pretextos, porque vejo a Ericeira tão diferente que o que me apetece é implicar, arranjar uma maneira da terra só me dar más recordações. Chego lá e não acho que lá tenha vivido; melhor, não quero pensar que a melhor infância que se pode ter seja hoje uma Amadora ou um Cacém. Estragaram-na (só a ericeira)!
De qualquer maneira, as boas recordações permanecem. Elas não me querem abandonar.
"Caga na Ericeira!"; foi o que me disse...