Thursday, February 22, 2007

Alma Lusa


Passam já alguns dias desde que sinto dentro de ti uma força especial, uma força viva que me faz mover. Passaram alguns suspiros, passou um sorriso grande e passou uma catástrofe existencial dentro de mim. Queria destruir a minha mente, até descobrir que ela é mais forte. Depois contei-lhe de ti e das nossas brincadeiras, da força que temos tu e eu e as duas juntas. Foi embora, sem olhar a uma outra fraqueza, uma fragilidade demente que me encerra. Um dia, se quiseres, ensino-te o que é isto de que falo.

Passam já alguns dias desde o teu abraço, passam outros venenos e choros desde a última conversa, desde a última palavra. Passam algumas nuvens, no Tejo passam correntes.

Mas é quando me lembro que tudo passa que sei que vamos sempre ficar melhores, porque o tempo ajuda; o tempo arde e cura.

Sentas o teu preconceito, devoras uma cumplicidade mais crescida, uma senhoridade que me agride de doçura. Gentileza, também.

A varina caminha numa Alfama descalça, a canastra atirada sustenta! A Lisboa pensativa que te espera já me disse que és bonita, mas esqueceu que era eu. Esqueceu que fui eu que lhe gritei! Por isso agora sei que todos sabem que bebes dessa beleza e me dás um fado saudoso, me tocas uma guitarra. E essas palavras que cantas, as melodias que compões sobem às muralhas de um castelo que se rende de velhice e de charme. A mouraria também sabe o teu nome, já o ensinei a todas as paredes, porque elas têm ouvidos.

Sunday, February 18, 2007

Tríptico



As imagens que guardam de nós repetem-se. A figura. A marca daquilo que somos grava-se e agrava-se. Há uma imagem que não me sai da cabeça; o hábito, a confiança trincada, mordida. A mão firme que me segura, me preenche e transborda. Os olhos que me decoraram, que me limpam as lágrimas. O acolher em que me sentia, o encolher que sinto agora. O caminho que se segue é guiado só por nós. Mas nunca vamos sozinhos. Eu acompanho-te também numa temporada mais ao abandono, como quando finges que passeias em cima dos meus trilhos, quando nadas pelo meu riso e me seguras a cabeça e me adormeces.
E quando acordamos na fonia daquilo que me parece sempre manhã. Quando amanhecemos os dois e, amanhecidos nos fundimos numa viagem que não acabou ainda. Sempre te disse que havíamos de terminá-la juntos.

Tuesday, February 06, 2007

Ela sente

As promessas que se fazem, ainda que em silêncio devem ser cumpridas... A pouco e pouco ou tudo de uma vez, cumpram-nas. Como faço eu, que me pareço tola e inacabada num qualquer assunto que se deixa para trás. O sono que me ataca quando desce o sol é substituído algumas vezes pela insistente companhia da tua imagem, Madalena. Pela tua gargalhada feliz que me rasga o sorriso, pela tua voz sabida e desmedida, pela tua expressão desconfiada. Por tudo o que te conheço e por tudo o que conheces em mim. E, sem demora nenhuma, pela tua partida que me risca em parte as felicidades. A falta que me fazes, a ausência que me cometes, essa é das mais pesadas, o tropeção de todos os dias que me esfola os joelhos. A promessa que se faz, mesmo que para ti e para mais ninguém, tem de ser levada a cabo! Eu julgo-me numa qualquer promessa, uma que ainda não compreendo no seu todo. Mas tento, devagarinho. E não custa! Custa-me mais ter-te por aí e não por cá. Custa-me tudo o que nos falta e o que me falta é quase tudo por tu não estares aqui. A odisseia que cometes vai dando ponto sem nó. Eu aqui tenho um braço para que te envolvas quando chegares a Lisboa menina e moça. Ela sente a tua falta. O rio? Parou!