Friday, September 29, 2006

Apetece gritar até que me expliquem. Não aguento.

Monday, September 25, 2006

era assim

Vens daí com esse sorriso levado da breca como quem já sabe o que me passa pela cabeça, como quem sabe de cor a coerência dos meus pensamentos. Já não te sentas cuidadosamente no sofá, passaste a atirar-te por teres percebido "que é mesmo fixe ver a pessoa ao lado saltar". Perdeste aquela pontada chique que nos arrasava de confusão quando mascavas desagradavel e desajeitada as pastilhas gorila que se vendiam no cafezinho aqui ao lado. Também as substituíste. Agora mascas trident ou chiclets por achares que já perdeste a idade de comer pastilhas de cinco centímetros de diâmetro de boca escancarada. "As trident dão-me outro ar, pareço outra e cheiram diferente!". É um facto e também o é que perdeste a graça. Essas dicotomias valiam-te como uma personalidade. Elas eram-no, de verdade. Há coisas que não duram sempre, bem sei, mas essa mudança é brusca e traiçoeira. Vinhas dizer-me que não sei do que falo, que faço sempre os juízos errados. Depois fazias a comparação ridícula; "é como um barbeiro que tem uma lojinha antiga nos Fanqueiros achar que é barra em computadores!". Dizias sempre no mesmo tom, usavas sempre a mesma expressão e movias as mãos e os braços como se as paredes não existissem. Alguma vez te disse como me agonia a forma como conversas com as mãos? Ficas exagerada de expressão porque a mim bastam-me os teus olhos. Nem precisas de falar. Mas se não o fizeres vai morrer a tua imagem porque tu sempre me apareces com a companhia da tua voz amachucada. Chegavas lá a casa e corrias as cortinas, abrias as janelas de um lado ao outro e punhas-te a fumar. Seguravas o cigarro entre o terceiro e o quarto dedos e parecia que ele entrava nas nossas conversas. Dançava no ar obedecendo ao inevitável movimento das tuas mãos. Então o fumo fininho ficava desenhado no ar até se esbater. As tuas unhas eram já amareladas por causa desse vício que aprendeste a não querer largar. E ficávamos por aqui a cozinhar e a conversar e eu dizia-te sempre que fosse o que fosse que estivesse para vir, não trocaria por nada a nossa amizade.
E não o fiz.

Sunday, September 03, 2006

Aragem Morna


E é lá, além Tejo, numa recatada vila no interior português. Castiçam os hábitos e as vontades atenuam. Há entrega à paz, ao silêncio queimado do sol. Há sossego interior como que uma reza constante à calmaria. E neste embrulho meio apagado de branco e de inércia, cai a noite devagar mas não arrefece o ar. Com ela um passeio às romarias, aos barulhos das aldeias, das gentes dali. Um copo de vinho ao bailarico. Quente, aragem morna e a estafadeira da pele curtida, o cansaço de estar sossegado dia fora. Quebra de luz, na sombra que se forma na cara desenhada de quem lê umas linhas. Calor e concentração e a regra rompida no meio de braçadas. E uma aragem morna que vem e volta e varre o cabelo da cara e me dá um pouco mais de paz, de desafogo. Assim vejo a cara desenhada que lê e prefiro. Amo a observação como gosto daquela inércia.
Falamos mais logo.