gaivota
Eu conheço uma gaivota. Uma gaivota que, como as outras gaivotas, ama a liberdade e voa nela, até. Solta as asas e vai por aí, vai muito longe, não a vejo sempre. O ar que a embala parece não lhe servir, é um tamanho acima, mas é tudo o que quer. Mas reparei já que a gaivota volta às vezes a esta terra, regressa a casa e descansa e serve-se do cais que lhe mata a fome. Depois vai de novo, embalada, balançada, de asas soltas. E não a vejo, então. E demora, demora... demora! E às vezes, naquele tapete de praia entre a terra e o mar, encontro marcas pequeninas; umas maiores que outras... mas não avisto gaivota. Então percebo que a gaivota vai vivendo, lá por cima, onde ninguém a vê, de asas soltas e peito inchado mas que regressa a casa, a terra, para dormir e se proteger e vem matar a fome ao mar que, de fúria, agita as ondas verdes e vastas para apagar as marcas que deixou entre elas e a terra. Mas a terra não as esquece, o mar apenas as tapa. A gaivota solta as asas e o vento, filho do ar, festeja-lhe as penas, bonitas, macias. Mas a fome aperta, o cansaço vai pesar. E eu conheço essa gaivota, ela volta para eu a ver, porque eu sou a terra e o mar.