Alma Lusa

Passam já alguns dias desde que sinto dentro de ti uma força especial, uma força viva que me faz mover. Passaram alguns suspiros, passou um sorriso grande e passou uma catástrofe existencial dentro de mim. Queria destruir a minha mente, até descobrir que ela é mais forte. Depois contei-lhe de ti e das nossas brincadeiras, da força que temos tu e eu e as duas juntas. Foi embora, sem olhar a uma outra fraqueza, uma fragilidade demente que me encerra. Um dia, se quiseres, ensino-te o que é isto de que falo.
Passam já alguns dias desde o teu abraço, passam outros venenos e choros desde a última conversa, desde a última palavra. Passam algumas nuvens, no Tejo passam correntes.
Mas é quando me lembro que tudo passa que sei que vamos sempre ficar melhores, porque o tempo ajuda; o tempo arde e cura.
Sentas o teu preconceito, devoras uma cumplicidade mais crescida, uma senhoridade que me agride de doçura. Gentileza, também.
A varina caminha numa Alfama descalça, a canastra atirada sustenta! A Lisboa pensativa que te espera já me disse que és bonita, mas esqueceu que era eu. Esqueceu que fui eu que lhe gritei! Por isso agora sei que todos sabem que bebes dessa beleza e me dás um fado saudoso, me tocas uma guitarra. E essas palavras que cantas, as melodias que compões sobem às muralhas de um castelo que se rende de velhice e de charme. A mouraria também sabe o teu nome, já o ensinei a todas as paredes, porque elas têm ouvidos.