E a cada trago

Ben Harper - Alone
E a cada trago se me avermelham as bochechas, a cada trago levo um avanço de adrenalina que corre com timidez pelas veias que começo a sentir lantejar. As baforadas que mais intensas vão ficando e me atormentam a mente de felicidade e lentidão. Ainda neste ânimo festivaleiro que há já algum tempo não se fazia por aqui sentir. Ainda que as asas não me cheguem para levantar voo; as mesmas asas que me levaram já a alturas vertiginosas. Que se contem as coisas boas que há para contar, se as houver. Que se falem as maldades que se fazem, que adormeça e durma a podridão mendiga de te esperar numa dança inerte. E que nasça e viva a recompensa que sei que vai chegar, que não se vê a olho nú. E por falar em nudez, que se dispam as mentalidades acorrentadas e amordaçadas em cernes que não se usam, já. Tirem de si essas roupas compridas em que tropeçam por saberem que precisam de ser trocadas já que mudaram os tempos. Que se designem novos mas bons caminhos e alveje-se a hipócrita mania de tudo e de mais nada. E desenhem e rabisquem a novidade que é estar vivo todos os dias. E o grito, fiquem a saber, acaba por não compensar. Ele apenas acalma.
E a cada trago se me avermelham as bochechas, a cada outro surge a sede. A espiral forma-se ao meu cerrar de olhos, mas não deixo que puxe por mim, apenas por outro trago, desses que me avermelham as faces. Comtemplo, antes, a tua fotografia.